Todo herói tem sempre um vilão principal que vive para atormentá-lo. Super-Homem já viveu mil aventuras lutando contra Lex Luthor. Batman carrega uma cruz chamada Coringa, responsável pelo assassinato de Jason Todd, um dos Robin (leia-se: A Morte de Robin, Ed. Abril). MacGyver (Richard Dean Anderson) fez muito malabarismo para escapar das garras de Murdoc (Michael Des Barres), seu inimigo número um. O Demolidor encontrou pela frente Wilson Fisk, Rei do Crime, o homem que encomendou a morte de Elektra ao Mercenário. O Homem-Aranha também perdeu seu primeiro amor, Gwen Stacy, nas garras do Duende verde, o qual vira e mexe ainda aparece nos quadrinhos para infernizar a vida do cabeça de teia.
Nós poderíamos continuar discorrendo sobre os heróis e seus vilões “preferidos” por muito mais tempo, mas vamos ao que interessa: alguém tem dúvida que Hellingen é o maior vilão que Zagor já enfrentou? Creio que não.
Foram, até o momento, seis embates até o último sangue entre o Espírito da Machadinha e o Maléfico Cientista.
A primeira aparição deste mad doctor, que lembra aqueles personagens de terror dos anos 30/40, deu-se na revista Zagor Striscia (Zagor formato cheque) 16, 2ª série, publicada em julho de 1963, na Itália.
No Brasil, essa história foi publicada em Zagor Vecchi 26 (Nas Garras de Titan) e Zagor Especial Record 6.
Tudo começa quando Zagor e Chico naufragam em uma ilha do lago Erie habitada pelos pacíficos Ottawas, do chefe Teseka. Os índios vivem em um clima de terror por causa de alguns brancos que aportaram à ilha e os obrigaram, violentamente, a procurar comida para eles. Os Ottawas também observam certos momentos de pânico, durante os quais um misterioso gigante parece movimentar-se pela ilha. Zagor convence Teseka a reagir contra os intrusos e depois de alguns confrontos com os opressores descobre que o monstro realmente existe: é Titan um robô de aço criado pelo professor Hellingen, um cientista genial capaz de criar inventos moderníssimos como televisores e circuitos elétricos.
O mad doctor tem um esconderijo na ilha e com sua quadrilha faz experiências que são, na verdade, o protótipo de uma série de criaturas mecânicas com as quais pretende conquistar o mundo inteiro.
Zagor cai em suas mãos, mas consegue escapar justamente em tempo de salvar os Ottawas de uma expedição punitiva de Titan: para tanto, Zagor obriga Hellingen a afundar o robô nas águas do lago. Logo após, o laboratório pega fogo e Hellingen é dado como morto.
Hellingen é o antagonista da primeira grande aventura de Zagor. Guido Nollita, aliás Sérgio Bonelli, criou um vilão megalomaníaco, com sonhos de conquistar o mundo e que usa o já conhecido chavão: os meus colegas que ousaram chamar-me de visionário presunçoso se arrependerão.
Em TuttoZagor 9, Bonelli confessa que Hellingen foi inspirado em Virus, o Mago da Floresta Morta, protagonista de uma história em quadrinhos publicada em 1939 por Federico Pedrocchi e Walter Molino.
Já Titan, conforme declarado em TuttoZagor 15, é inspiração decorrente da história O Monstro de Aço, de Brich Bradford. A paliçada erguida pelos Ottawas nos lembra o filme King Kong.
Além de marcar a estréia de Hellingen, essa história também apresenta um personagem muito querido pelos leitores: Trampy, o genial vagabundo, que tem suas incríveis maquinações levadas ao fracasso graças a Chico.
Primeiro encontro de Chico com Trampy
Uma homenagem a essa história aconteceu em Dylan Dog 120, graças a Tiziano Sclavi: na página 67, de repente aparece uma edição inglesa da revista Sulle Orme di Titan (Zagor italiano 12).
Cinco anos após a primeira aparição de Hellingen, em setembro de 1968, Nolitta acompanhado do inesquecível Franco Donatelli arquitetaram a volta do genial inimigo do Zagor (leia-se: Ameaça Mortal - Zagor Vecchi 37/38).
Quem pensava que Hellingen fora morto no primeiro encontro viu que estava completamente enganado.
Depois de conseguirem escapar de alguns misteriosos atentados, Zagor e Chico conseguem impedir um encontro sanguinoso entre os Mosolopea de Haaruk e os Otawas de Teseka, seu velho aliado na aventura contra Titan..
Os Ottawas abandonaram a ilha do lago Erie, porque um misterioso monstro aquático, cuja descrição faz lembrar uma baleia, os impede de pescar. Zagor se empenha em livrar as águas do lago da criatura, voltando ao local que foi teatro de sua batalha com o louco professor Hellingen.
À caça, unem-se o capitão Fishleg, um velho baleeiro que caiu em desgraça, e os marinheiros de seu barco, o qual é destruído, à noite, pelo monstro. Zagor, Chico e Fishleg descobrem, então, que não se trata de uma baleia, mas sim de um submarino chamado Squalus, a última invenção do sempre vivo Hellingen, que captura os nossos amigos. O professor, que também tramou os atentados precedentes, construiu o submarino com o objetivo de recuperar do fundo do lago o seu Titan.
Com a ajuda de um soro que anula a vontade, Zagor conserta os danos do robô, seguindo as ordens transmitidas pelo professor por rádios, assistindo, assim, impotente à ressurreição de Titan. Graças a Chico, consegue livrar-se do efeito do soro e passa ao contra-ataque. De uma só vez destrói Titan e o Squalus, fazendo-os ir um de encontro ao outro enquanto ainda estão na água. Após, Zagor chega ao laboratório de Hellingen, que é atingido no peito pelo arpão de Fishleg, antes que consiga destruir nosso herói com sua última arma genial.
Esta aventura do Zagor, publicada no Brasil nos números 37/38 da Vecchi não faz parte da cronologia das revistas formato cheque, pois foi realizada diretamente para a série gigante, com o objetivo de retardar o encerramento da coleção Lampo.
O retorno de Hellingen foi orquestrado com uma sábia expectativa: desfrutando a oportunidade de adotar um nível narrativo mais diluído, o autor, no início, conduz a história lentamente e reconduz, aos poucos, Zagor e Chico ao local em que se defrontaram com o mad doctor. Depois que a tensão e o mistério se acumularam no ponto certo, eis que, finalmente, o vilão retorna mais temível que nunca, com o rosto desfigurado pelo incêndio do laboratório e com a alma cheia de ressentimento e frustração por ter sido vencido por uma só pessoa, um rude homem dos bosques.
Nolitta introduz um novo personagem ainda hoje muito amado pelos leitores: o capitão Charles Humbold, conhecido como Fishleg, por causa da sua perna artificial feita de um osso de baleia.
Seis anos depois da aventura acima, em junho de 1974, Zagor encontra-se com Hellingen mais uma vez. Isso acontece quando nosso herói e seu inseparável companheiro voltam a Darkwood depois de uma longa ausência. Nesse meio tempo muitos fatos desagradáveis aconteceram: o novo comandante de Forte Bravery, o Coronel Kraizer, obrigou os trappers a abandonar Darkwood, com a desculpa de evitar conflitos entre eles e os índios. Mas até as tribos indígenas estão deixando o local. Quem informa isso aos nossos amigos é Cabeça Dura Jones, o único trapper que permaneceu na floresta (bem que ele merece o seu apelido).
De repente, alguns soldados atacam a cabana do traper. Cabeça Dura morre antes que Zagor consiga derrotar os soldados, os quais aparecem, estranhamente, mortos, inclusive aqueles que Zagor tinha apenas ferido. Ao chegar com Chico a Forte Bravery, Zagor obtém de Kraizer a promessa de uma investigação acerca do comportamento dos soldados (segundo o Coronel, eles não faziam parte do seu destacamento). Ao voltar para sua cabana, Zagor e Chico escapam por milagre de um foguete que a destrói repentinamente.
Em seguida, encontram Tonka, o único índio que permaneceu em Darkood e que sabe onde é o esconderijo dos soldados que mataram Cabeça Dura. Esse esconderijo fica no interior de um vulcão chamado Olho do Diabo. Zagor consegue entrar no local e depara-se com uma surpresa: lá há uma base futurista com plataformas de lançamento para mísseis (os famosos foguetes). Quem imaginou tudo isso não poderia ser outro que não Hellingen, o mais genial e louco cientista que o mundo já viu. Ele sobreviveu ao arpão de fishleg e voltou a Darkwood para vingar-se de Zagor, que foi capturado junto com Chico e Tonka.
O cientista aliou-se ao coronel Kraizer e, juntos, planejam um golpe de estado. Um homem de Kraizer vai a Washington, portando um televisor (outro aparelho inventado por Hellingen), com o qual o coronel pode comunicar-se com o presidente dos Estados Unidos. Se o comando da nação não fosse entregue a Kraizer e Hellingen, Washington seria destruída por foguetes lançados pelo mad doctor. Depois dos primeiros bombardeios, o presidente é obrigado a ceder. Kraizer marcha em direção à capital com centenas de homens.
Tudo leva a crer que Hellingen finalmente venceu, mas Zagor ainda tem um ás na manga: ele finge-se de morto após comer a wodah, uma erva indígena que produz uma morte aparente. Assim ele consegue fugir de sua cela com seus amigos e chegam ao laboratório de Hellingen. Zagor elimina os soldados apertando um botão em um dos aparelhos de Hellingen, o qual provoca uma descarga mortal no cinturão dos pobres infelizes (todo soldado possuía um - foi assim que morreram os soldados que agrediram Zagor no começo da história).
Zagor obriga Hellingen a mandar dois foguetes contra a tropa de Kraizer, que está bem perto de Washington. Acontece um verdadeiro massacre e até o coronel perde a vida. O golpe foi contido e os índios e trappers podem voltar para Darkwood. Hellingen enlouquece (agora pode ser realmente chamado de mad doctor).
No livro Come Tex non c`è nessuno, Sérgio Bonelli, entrevistado por Franco Busatta, diz que Helligen é o vilão mais malvado entre todos os adversários que Zagor já enfrentou. Ele tem um nome esquisito, um rosto bruto e carcomido e é meio maluco desde a primeira aparição. Os encontros com Hellingen tornam-se, no decorrer dos anos, sempre mais cruéis, ganhando aspectos que vão do horror à ficção-científica, da metafísica à cibernética.
Com essa história, termina a primeira viagem de Zagor pela América, iniciada em Zagor italiano 88 com a história Odisséia Americana (Zagor Vecchi 5/6 e Zagor Record 17). Neste mês, Zagor encontrará Hellingen pronto a recebê-lo em Darkwood (veja-se Zagor Extra 74).
E quanto a Hellingen? Ainda há mais três encontros a acontecer, mas isso já é uma outra história.
Fonte: Zagor Index 1-100 e 101-200, TV Séries 20 e coleção italiana da revista Zagor.
Texto traduzido e compilado por José Ricardo do Socorro Lima, coordenador do Grupo Bonelli HQ com a preciosa colaboração de sua esposa Josilene Antonia de Lima.
Imagens gentilmente cedidas pelo Portal TexBR e pela UBC.
Um comentário:
Cadê a 2ª parte de Zagor contra Hellingen??
E vc não vai fazer nenhum comentário sobre o Zagor 100???!!!
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