domingo, 13 de maio de 2007

Conto: Os Muros de Jericó - 5ª e última parte

5.O dia da Justiça.

A audiência do processo acontecera no saloon de Jericó. O mesmo onde Buzz entrara para amostrar a todos a recompensa pelo homem que estava caçando. Onde Zagor lhe tinha dado uma lição, botando-o para fora no meio da poeira. Onde Groove tinha observado a cena em silêncio, de um ângulo escondido. Agora as mesas que entulhavam a sala tinham sido colocadas e amontoadas justamente naquele ângulo, exceto duas, que serviam ao juiz Samson para colocar sobre elas os autos do processo e ao xerife Reilly para manter Percival March sentado e algemado. No meio do local foram dispostas as cadeiras para o público e todas estavam ocupadas, chegando a ficar muitas pessoas de pé. Em uma cidadezinha de fronteira como Jericó, não havia muitas ocasiões para divertir-se, e um processo garantia um espetáculo imperdível. Sobretudo um processo por homicídio destinado a concluir-se, podia-se apostar, com a condenação à morte do acusado. O enforcamento que se seguiria um dia depois garantiria um espetáculo ainda mais divertido e provavelmente haveria ainda mais espectadores. Agora, contudo, o juiz não estava sentado atrás de sua mesa e algumas cadeiras estavam vazias, deixadas assim pelos ocupantes que, cansados de tanto ficar sentados, levantaram-se e foram molhar a boca no bar. O júri estava reunido na sala do conselho, se assim se poderia chamar o depósito na parte de trás onde estavam isoladas as dez pessoas, escolhidas pelo juiz e pelo xerife entre os cidadãos de Jericó que podiam dar maiores garantias de imparcialidade e razoabilidade. Uma tarefa difícil encontrar essas dez pessoas.
Percival March, sentado atrás da mesa do xerife, ao lado de Reilly, tinha o busto inclinado para frente e a face escondida entre as mãos, que a apoiavam, enquanto o cotovelo ficava sobre a mesa.
A cabeça do homem ainda estava enfaixada por causa das feridas ocasionadas pela queda, aquela que o fez perder a memória.
Rhoda March estava sentada ao lado dele e lhe falava em voz baixa, procurando consolá-lo.
- Vai terminar bem, Percy... você vai ver!
- Não viu o rosto dos jurados, quando se reuniram no conselho? Eles me enforcariam com as mãos se pudessem! - sussurrou o homem - E depois... eu mesmo não sei que coisa pensar... se não fosse você a sustentar o contrário eu pensaria que teria matado realmente aquele Buzz!
- Não pode defender-se somente porque não se recorda de nada. Eles têm de levar isso em conta! Não podem enforcá-lo antes que você recupere a memória e dê a sua versão dos fatos, Percy!
- Podem e farão, Rhoda. Estão convencidos de que eu estou fingindo!
- E como? Não vêem que você olha para mim e para nossos filhos como se fôssemos uns estranhos? Ninguém poderia fingir desse modo!
- Eu não sei nada sobre você e os garotos, Rhoda. Eu os vi pela primeira vez quando reabri os olhos depois da queda naquele penhasco. Mas estou contente de tê-los junto a mim, agora.
Nos olhos do homem brilhava uma lágrima, indecisa se se limitava a umedecer as pestanas ou a deslizar silenciosa pela face barbeada.
Rhoda apertou o braço dele e sussurrou:
- Ainda que os jurados o declarassem culpado e o juiz o condenasse à morte, há sempre uma esperança... Zagor!
- Você me falou dele, mas não sei quem é, nem que coisa possa fazer por mim!
- Ele foi para as montanhas, procurando os Sauk que você recordou enquanto delirava. Descobrirá o que aconteceu e voltará a tempo para salvá-lo, você vai ver!
Sam Reilly, o xerife, ficara em silêncio escutando a conversa e então suspirou. Também a ele agradaria saber o que acontecera com Zagor. E seguramente agradaria também a Chico, o mexicano, que o esperava com impaciência fora do saloon, sentado a olhar para as montanhas à espera de vê-lo retornar.
Naquele momento, a porta do depósito se abriu e os jurados ficaram à espreita. Um murmúrio percorreu a sala. O público procurou retornar aos seus lugares ou a conquistar uma posição na frente dos outros. O juiz, que estava recolhido num cômodo no andar de cima à espera do veredicto, chamado com duas batidas na porta por Seth Kolbe, o barman, apressou-se a descer as escadas e a ir para sua mesa. Somente quando se sentou em seu lugar, os jurados retomaram suas posições e se enfileiraram à direita, em frente às cadeiras reservadas a eles. Percival March levantara a cabeça e olhava-os impassivelmente diante de si. Reilly, contudo, notou que as mãos dele tremiam e estava com as têmporas molhadas de suor frio. Rhoda voltara a sentar-se junto com o público, na primeira fila. Samson bateu duas vezes com o martelo na mesa, acalmando o ruído da sala. Depois se voltou ao júri:
- Os jurados chegaram a um veredicto unânime?
O presidente do júri era o médico de Jericó. Impostou a voz antes de responder.
- Sim, Vossa excelência.
- Os senhores declaram o acusado inocente ou culpado?
De novo uma voz impostada.
- Culpado, Vossa Excelência.

Dentro da maior cabana do vilarejo indiano, Zagor estava sentado com as pernas cruzadas diante de um pele-vermelha do rosto rugoso e bronzeado, que tinha sobre si um cobertor de pele de cervo e no peito um colar de lontra enriquecido com uma coleção de garras de urso. Na cabeça, um turbante emplumado. Na mão, uma longa pipa que emanava uma fumaça acre. O chefe Sauk tinha começado a fumar imediatamente após ter acolhido o Espírito com a Machadinha no seu wigwam e não tinha ainda oferecido uma pitada nem a Zagor nem aos outros maiorais da tribo reunidos com ele. À fumaça da pipa se juntava aquela de um fogo de brasas sobre o qual fervia um líquido de cor indefinida, uma mistura de ervas aromáticas que, ao contrário, todos os presentes tinham recebido, servida em uma pequena taça de madeira. Seja pela aglomeração, seja pela fumaça, o ar no interior da cabana era irrespirável. Zagor já estava habituado, mas muitos brancos não teriam resistido por mais de dez minutos lá dentro.
- Então, quando os Sauk encontraram os corpos dos dois guerreiros, um dele ainda estava vivo? - perguntou o Espírito com a Machadinha para ficar bem certo de ter compreendido aquilo que Kyyo`Kaga acabara de dizer a ele. Para ele o problema não era tanto compreender a língua e os dialetos índios, mas sim decifrar aquilo que o sakem dos Sauk tinha resmungado sem tirar a pipa da boca. Kyyo`Kaga anuiu com a cabeça e prosseguiu:
- O mais jovem, Hakawada, estava ferido no peito. O mais velho ao contrário, atingido na cabeça, já estava morto. Mas também Hakawada não viveu por muito tempo, depois que o trouxemos para o vilarejo.
- Conseguiram falar com ele?
- Pode dizer somente poucas palavras.
- Contou quem o havia ferido?
- Sim. Um homem branco, muito barbudo. Por isso os Sauk procuraram a vingança percorrendo o caminho da guerra contra os caras pálidas.
- E por isso vocês me atacaram.
- Quem o atacou não o havia reconhecido. O nome do Espírito com a Machadinha é respeitado entre os Sauk.
- Por que o homem branco com a grande barba matou dois do seu povo?
- Os dois tinham saído para caçar. Encontraram uma gruta em que, às vezes, os ursos se refugiam. Entraram para ver se havia algum. Encontraram um branco amarrado, prisioneiro. O homem pediu a eles que o libertassem. Eles o fizeram e o branco foi embora.
- Hakawada descreveu o branco encontrado prisioneiro?
- Disse apenas que ele também tinha uma barba comprida.
- Mas não era o mesmo que depois matou Hakawada e seu companheiro.
- Não. Eu fiz essa pergunta. Eram dois homens diferentes.
- Depois o que aconteceu?
- O prisioneiro foi-se. Pouco depois apareceu o outro, que matou os Sauk por terem libertado o prisioneiro.
- Então quem matou os Sauk era o mesmo que havia aprisionado o outro branco na gruta.
- Isso. Um homem malvado, que descontou sua raiva contra nós!
Zagor suspirou. A história estava mais clara. Mas havia ainda alguma coisa que não fazia sentido. De qualquer forma, tinha elementos para impedir que Percival March fosse enforcado. Talvez Buzz não tivesse sido morto por ele.

Em Jericó, a condenação era executada um dia após a sentença. Era um tradição que Sam Reilly tinha herdado quando fora eleito xerife e não tinha nunca encontrado um motivo válido para impor à população uma mudança.
No seu escritório, havia apenas uma cela e seria inútil mantê-la ocupada por longo tempo. E também penoso: por que torturar por semanas um condenado já destinado à forca?
Melhor retirar isso rápido do pensamento, seja dos cidadãos seja do morto ambulante. Com os anos, as pessoas tinham acabado por afeiçoar-se a esse costume, que se tornara uma norma severa. Se a condenação fosse a prisão, no dia seguinte à sentença o novo preso partiria na direção estabelecida pelo juiz. Se fosse a pena capital, vinte e quatro horas depois o sujeito estaria pendurado na forca.
Reilly não poderia impor uma exceção à regra sem correr o risco de perder sua estrela. Para dizer a verdade, desta vez lhe teria sido agradável a prorrogação. Não porque não estivesse convencido de que March merecesse a forca. Diabos, muito embora as lágrimas da mulher, ele tinha matado Buzz e Groove. Mas Zagor não havia ainda retornado e não lhe agradava a idéia que voltasse depois de tudo concluído. Avaliou um pouco a oportunidade de explicar à população que deveria haver uma espera. Depois se convenceu de que não convinha. Não por um caso como aquele, em que as dúvidas sobre a culpa do condenado eram nenhuma. E em que as pessoas poderiam dizer (e teriam dito) que Reilly protelava somente para agradar a seu amigo. Ou porque se deixara comover pelas lamentações de uma mulher e de seus dois filhos. Por isso, o xerife abordou o assunto primeiro com Chico, que sacudiu a cabeça sem rebater nada, depois com Rhoda, que escondeu o rosto entre as mãos e começou a chorar. Em seguida, abriu a porta da cela e tirou dela Percival, preso pelos pulsos, que foi na direção da forca que o esperava no fim da Main Street.

Zagor cavalgava incitando o cavalo a galopar o máximo que pudesse. Tinha conseguido convencer os Sauk que Wes Groove, o assassino dos dois peles-vermelhas, já tinha pago com a vida o seu delito, terminando esfacelado no fundo de um precipício. Kyyo`Kaga tinha concordado com ele que, se os seus guerreiros matassem por vingança outros brancos, atingiriam apenas vítimas inocentes, que, por sua vez, atrairiam sobre os Sauk a vingança de outros brancos, em uma espiral de violência da qual não era possível imaginar a amplitude. O Espírito com a Machadinha tinha dormido no vilarejo, porque a noite já vinha chegando, quando ele terminara de falar com o chefe índio. Na manhã seguinte, partiu imediatamente em viagem. Agora, quase já estava em Jericó. Esperava ver seus muros externos a qualquer momento. Continuava a meditar sobre todos os ocorridos. Percival March era inocente, não havia dúvidas. As dúvidas, ao contrário, estavam em outro detalhe... alguma coisa que Zagor não conseguia explicar.

O condenado não gritava, enquanto lhe punham a corda em volta do pescoço. Outros esperneavam, contorciam-se como endemoninhados. Deviam ser presos e tratados como cavalos selvagens. Percival March chorava em silêncio. Quem gritava era Rhoda, na primeira fileira, diante da multidão reunida para o espetáculo. Chico a segurava pelo braço, procurando sustentá-la.
- Não podem, não podem enforcar um homem sem memória! Não antes que ele se recorde de que eu sou sua mulher, que nós temos dois filhos! Não podem matá-lo sem que ele nos tenha beijado e abraçado!
Sam Reilly suspirava, ali perto, pregando que tudo terminasse no mais breve tempo possível, confortado somente pelo pensamento que ao menos os dois jovens tinham ficado no albergue e não assistiram à execução.
O carrasco, papel que sempre em Jericó era exercido pelo coveiro da cidade, antes de colocar o capuz na cabeça, perguntou a March se queria dizer alguma coisa. Percival, com os olhos perdidos, fixou-se em Rhoda.
- Não recordo quem você é - disse, quase balbuciando - mas lhe agradeço pelo que fez por mim!
O carrasco cobriu a cabeça dele com um pequeno saco de pano preto.
- Por favor, deixe-me abraçá-lo pela última vez! - gemeu Rhoda.
O carrasco olhou para o xerife, que anuiu com um aceno de cabeça. Chico largou o braço da mulher, que foi ajudada a subir ao palco de execuções. Rhoda abraçou o marido e sussurrou-lhe alguma coisa ao ouvido, sob o capuz. O condenado pareceu agitar-se. Rhoda, com o rosto escondido entre as mãos, desceu e voltou a ficar perto de Chico e de Reilly. Foi nesse momento que Percival começou a contorcer-se e a gritar. Não estava bem claro o que ele estava dizendo, com o capuz que lhe cobria a cabeça. Mas ninguém prestou atenção a ele. Todos os condenados gritam e se contorcem enquanto o carrasco lhes põe a corda ao redor do pescoço.
Zagor chegou a galope entre as primeiras casas do lugar. Incitava o cavalo a correr como uma fúria. Agora tinha entendido a verdade. A incrível verdade! Alguma coisa de desconcertante, quase impossível de se acreditar. Não havia ninguém pelas estradas. Todos estavam assistindo à execução. Zagor viu a multidão reunida em volta da trágica forca, lá no fundo diante dele.
- Parem! - gritou. Mas ninguém o ouviu.
O carrasco abriu o alçapão.
A corda retesou. Ouviu-se um estalido, como um golpe de chicote.
Era o pescoço de Percival March que se quebrava.
O homem nem mesmo se debateu. Permaneceu pendurado, imóvel, balançando como um pêndulo.
Rhoda o fixou petrificada.
As pessoas começaram a dispersar-se. Zagor pode passar pela multidão sem problema. Chegou a cavalo perto de Sam Reilly, Rhoda e Chico. Ninguém lhe disse nada, olharam-no descer do animal sem pronunciar uma palavra. Em volta deles não havia ninguém. O coveiro só levaria o cadáver no dia seguinte e agora estava andando ao saloon para beber algo, como a maior parte dos homens que tinham se reunido em volta da forca.
Zagor deu uma olhada no enforcado e depois se dirigiu para Rhoda.
- Por que você fez isso? - perguntou.
- Você entendeu tudo? - respondeu Rhoda, sem muita surpresa.
- Entendeu o quê? - gritou o xerife, arregalando os olhos.
- Os Sauk me disseram que tanto seu marido quanto Wes Groove tinham barba. - disse Zagor continuando a mirar Rhoda com ar de culpa, ignorando Reilly - Perguntei-me por longo tempo por que, ao contrário, o homem que você nos apresentou como seu marido tinha sido barbeado com cuidado. Delirava tomado pela febre, agitava a cabeça, também era difícil dar de comer a ele. E eis que você lhe fez a barba, Rhoda. Arriscando-se a feri-lo, visto que não estava em condições de colaborar. Sem esperar que melhorasse, se realmente desejava barbeá-lo, embora ele já tivesse barba há muito tempo e nunca tivesse pensado, espontaneamente, em retirá-la.
Chico e Reilly se olharam perplexos.
- Mas que diabos...? - balbuciou o xerife.
Rhoda abaixou o olhar. Zagor continuou:
- Há apenas uma explicação possível: o homem que você barbeou não era seu marido. Era Wes Groove!
Chico e Reilly arregalaram os olhos incrédulos, como se tivessem sido ofuscados.
- Por todos os bigodes de minha família! - exclamou o mexicano - Mas, então, o cadáver esfacelado no fundo do precipício...?
- Aquele era o verdadeiro Percival March. - respondeu Zagor - Groove o mantivera prisioneiro numa gruta, como suspeitava e como me confirmaram os Sauk. Os índios o libertaram e ele voltou para a família. Mas, nesse ponto, talvez seja o caso de você continuar a história, Rhoda.
A mulher levantou o rosto e olhou para Zagor. Os olhos estavam vermelhos, mas não chorava mais.
- Você tem razão, Zagor. - disse, com voz tremida, mas sem hesitação - Percival voltara há pouco tempo, me contara sobre sua prisão e como Groove tinha organizado um plano para acusá-lo pela morte de Buzz e fazer subir a recompensa pela sua cabeça. Depois Groove nos alcançou. Ele e meu marido lutaram. No duelo nas margens do precipício, quem caiu foi realmente Percival. Groove tinha batido a cabeça e perdido a memória. Eu o socorri e o levei para a carroça. Não sabia bem que coisa fazer, mas queria que ele pagasse tão logo recuperasse a consciência. Queria que ele soubesse que matara meu marido e que eu o mataria! Queria que soubesse que estava para morrer pelas minhas mãos.
Chico coçou a cabeça. Sam Reilly suspirou. Zagor disse:
- Continue.
- Sozinha não teria conseguido resgatar o cadáver de meu marido do fundo do precipício; nem mesmo com a ajuda dos garotos. Percival permaneceu lá embaixo, à espera de que alguém viesse ajudar-me. Eu sabia que o xerife veria, num momento ou noutro. Se eu queria matar Groove deveria fazê-lo antes que vocês o vissem vivo, Reilly. Mas Groove delirava e não havia sinais de que a amnésia estivesse passando. E eu, da minha parte, queria que ele soubesse. Assim me veio uma idéia. Percival e Groove tinham barba. A queda tinha deixado Percival irreconhecível. Desci ao fundo do precipício e coloquei em meu marido as roupas de seu assassino. Sabia que o xerife tinha visto Groove apenas por poucos minutos. Provavelmente recordava como estava vestido e que tinha barba, nada mais. Reconhecendo as mesmas roupas e notando também a barba no morto, o xerife não teria motivos para duvidar que o morto não fosse o caçador de recompensas.
O xerife contraiu os lábios, como se tivesse chupado um limão muito azedo.
- É verdade - anuiu - o rosto estava desfigurado. Reconheci Groove somente pelas roupas e pela barba.
- Ninguém, em Jericó, jamais tinha visto Percival pessoalmente. - continuou Rhoda - No cartaz de recompensa estava desenhada a barba e se eu barbeasse Groove ninguém o reconheceria. Eu o vesti com as roupas de meu marido e o barbeei. Sem a barba, seu rosto mudou de aspecto. Todos poderiam muito bem crer que fosse meu marido. E frente a sua mulher e seus filhos que choram pelo desmemoriado, por que duvidar que aquela não fosse sua pessoa querida?
- Seus filhos cooperaram, então!?
- Eu os convenci, explicando que era o único modo para vingar o seu pai e evitar que eu também fosse processada por homicídio. Matar Groove seria uma problema da lei. Eu poderia continuar cuidando deles. E, de qualquer modo, eu os mantive sempre longe do processo e eles não assistiram nem mesmo à execução.
- Você apostou no fato de que Groove não recuperaria a memória.
- Sim. E tinha razão.
- Em suma, você encontrou o modo de fazer Groove pagar pelo seu complô, sem sujar as mãos. - disse o xerife - E Groove caiu vítima da sua própria armadilha. No fundo, pagou por um delito que ele realmente cometeu. Você teve realmente um sangue frio extraordinário para ir até o fim com o seu plano.
Chico arregalou os olhos, intuindo mais alguma coisa e perguntou a Rhoda:
- Então é isso que você lhe disse em voz baixa, quando o abraçou no patíbulo? Que ele era Wes Groove e não Percival March?
- Sim. Fiz aquilo que tinha vontade de fazer desde quando o socorri pela primeira vez. Fazê-lo saber que estava para morrer pelas minhas mãos e que pagaria com a vida por ter matado meu marido!
- Eis porque começou a estremecer e a gritar enquanto lhe punham a corda no pescoço. Antes disso parecia conformado. - Concluiu Reilly. Depois o xerife suspirou de novo e voltou-se para Zagor.
- E agora, o que fazemos?
Zagor voltou-se para olhar o corpo de Groove que pendia na forca. - Não sei, xerife. Não quero aprovar o comportamento de Rhoda. Mas é verdade que March era inocente e Groove, culpado.
Rhoda abotoou o corpete que estava um pouco aberto. Depois disse:
- Estou a sua disposição, xerife. Não fugirei. Deixe-me apenas ir até meus filhos. Eu os espero no albergue. Venham dizer-me o que decidiram fazer comigo.
A mulher voltou-se e foi na direção do albergue. A estrada estava quase deserta.
Zagor, Chico e Reilly a observaram. Nenhum deles disse nada.
O vento da noite começou a soprar pela Main Street.

FIM

Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima, com a colaboração eventual de Umberto Sorgentone, organizador da Mostra de Atri.

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