Este conto foi escrito por Moreno Burattini.
1. O caçador de recompensas.
O bounty killer entrou no saloon empurrando as portinholas com as mãos. Ficou por alguns minutos na soleira, segurando as portas entre os dedos, pelo tempo exato para observar o interior e as pessoas presentes, da esquerda para a direita. O local não era muito grande, nem estava tão cheio. Havia pessoas nas mesas, jogando cartas, dados, bebendo e comendo. Outros estavam em pé, junto ao balcão ou em volta das mesas, observando o jogo. Uma mulher sofrida e do sorriso pálido limpava o local, com uma bandeja cheia de copos vazios que eram levados para lavar. O homem deu os primeiros passos no interior, deixando a porta oscilar atrás de si. Caminhou, por entre a densa fumaça até o balcão. Todos ficaram observando-o. Não porque fosse um rosto novo: não, em Jericó, cidade às margens da via mais importante da região, os estrangeiros não eram raros. Só que se via longe que aquele tipo não era nenhum pastor. A camisa vermelha, se o vermelho era realmente a cor que havia por baixo daquele pano sujo, era atravessada por duas cartucheiras que se cruzavam à altura do peito, e o cinturão servia para manter penduradas as duas pistolas. O homem não portava o chapéu, ou se pensaria que teria uma pistola sob ele. Apoiou os cotovelos no balcão, vagarosamente, colocando sobre ele um meio quilo de poeira.
Seth Kolbe, o barman, olhava para ele preocupado.
- Uísque ou cerveja? - perguntou-lhe.
- O que fizer menos nojo - respondeu o caçador de recompensas.
Kolbe pegou o uísque, que fazia nojo igualmente como a cerveja, mas custava mais. Enquanto o barman enchia o copo, o bounty killer procurou algo no bolso da camisa, fazendo tintinar as cartucheiras. Todos continuaram a observá-lo.
- Você já viu alguma vez este rosto? - perguntou, abrindo um cartaz de recompensa amassado. Antes de ver quem era, o barman percebeu o valor. Quinhentos dólares.
- Não - respondeu - Quem é ?
- Percival March. Um ladrão. Deu um golpe em Chicago e fugiu na direção da fronteira em busca de sorte.
- Se procura por ela em Jericó, errou de caminho.
- Ele a busca em outro lugar, mas passará por aqui.
O caçador de recompensas levantou o copo, olhando-o intensamente. A seguir, bebeu tudo de um gole só, colocando-o vazio no balcão. Limpou a boca com a mão direita, pôs meio dólar no balcão, sem perguntar quanto era, nem esperar mais nada.
Apanhou o aviso de recompensa. Ficou a observar de novo o local. Encostou-se a uma mesa, em que quatro homens jogavam pôquer. Estavam todos com as cartas na mão e os cigarros pendiam da boca. Observaram-no. O bounty killer examinou um a um, confrontando os quatro rostos com o retrato no cartaz.
O caçador prendeu, entre as mãos, o queixo de um caubói do rancho Duplo Zero que estava apoiado em uma coluna. Balançou sua cabeça para a direita e a esquerda. - Não lhe diz nada? - perguntou agitando o retrato.
- N-não... realmente! - balbuciou o caubói.
À mesa vizinha havia dois homens comendo. Um mexicano pequeno e gordo com a gravata enlaçada, preocupado em comer uma coxa de peru, e um homem de quase dois metros que vestia uma estranha roupa índia e limpava seu prato com um pedaço de pão. O mexicano não podia ser o seu homem. O outro não tinha barbas, ao contrário de March. Mas as barbas vão e vêm. Fisicamente era semelhante e podia ser ele mesmo. O caçador aproximou-se do homem, olhou-o e já ia pondo a mão em seu queixo, para fazê-lo levantar mais a cabeça.
O homem o surpreendeu. Com um movimento rapidíssimo, segurou seu pulso com a mão direita. Apertou-o. Fez o bounty killer abaixar-se. Bateu sua mão na mesa. A pancada fez tremer pratos e copos. O mexicano retirou da sua frente a coxa de peru, notando pela primeira vez o killer.
O homem com as cartucheiras cruzadas arregalou os olhos. O outro homem continuava prendendo seu pulso na mesa.
- Procure um outro osso para roer, Buzz! - sibilou.
O caçador deixou escapar uma exclamação de surpresa.
- Você... me conhece?
O homem olhou-o fixamente nos olhos.
- Você é Herod Dutch, de Columbus, caçador de recompensas, mas o chamam Buzz, porque fica em volta das caças com a insistência de um lobo que quer comer a ovelha. Já que aqueles que fazem seu trabalho me dão enjôo, saia daqui e vá procurar Percival March em outro lugar!
Buzz escutou-o. Não conseguiu falar mais do que uma interjeição e uma pergunta:
- Sangue de Judas! Quem é você?
O homem largou o pulso e ficou em pé.
- Deram-me o nome de Zagor.
Zagor era mais alto que Buzz por pelo menos dez centímetros. Buzz deu um passo para trás. No saloon, levantou-se um sonoro murmúrio.
- Zagor! - exclamou Buzz. Já ouvira falar desse Golias. Um amigo dos índios. Um inimigo de muita gente. Um ex-inimigo de muitas ex-pessoas que agora jaziam no cemitério. - É a abreviatura de Za-gor-te-nay. Na língua algonquina significa “Espírito com a Machadinha”. Não sei sua opinião, mas para mim é melhor do que Buzz.
Só nesse momento o bounty killer notou a insólita machadinha de pedra que pendia na cintura de seu interlocutor.
O mexicano suspirou. Não havia ainda terminado de devorar sua comida e temia deixá-la pela metade. Sabia como terminavam as coisas, em noventa por cento das vezes. Buzz superou a surpresa e sentiu voltar a raiva.
- Tanto desprezo pelo meu trabalho e você também caça os futuros enforcados! - Eu não o faço por dinheiro, preocupo-me que tenham realmente cometido aquilo pelo qual o procuram. Se possível, escuto suas razões, tento prendê-los vivos e não os machuco quando não podem defender-se. Não os golpeio pelas costas e sobretudo não tenho gosto por isso - vociferou Zagor quase sem tomar fôlego. -Exatamente o oposto do que você costuma fazer, Buzz. Por mais pesada que seja a consciência de sua presas, a sua não fica para trás!
Buzz torceu o nariz e inflou o peito.
- Diabos! Você não tem nada para tratar com seus fedorentos amigos índios!? Você pode tratá-los assim, mas não a mim!
De repente, diante de todos, Buzz levou sua mão à pistola da direita. Talvez quisesse dispará-la ou apenas usá-la para fazer abaixar a crista de seu adversário, pouco importa.
Conseguiu segurá-la e extraí-la do coldre, mas não chegou a apontá-la. Zagor bloqueou seu braço um pouco acima do cotovelo e com força o fez voar alguns metros. Buzz perdeu a pistola um instante antes de espatifar-se em uma mesa e cair por terra entre os ases embaralhados, a toalha melada, os pratos quebrados, o resto do peru.
O mexicano conseguiu desviar-se justamente no momento certo.
- Caramba y carambita! - exclamou.
O cartaz de recompensa voava ainda no ar. Caiu na barriga de Buzz. Os clientes sentados às mesas levantaram-se e saíram do local. O negócio não havia ainda terminado. O bounty killer movia-se. Estava carregando suas pernas como uma mola, para pular com a cabeça abaixada. Zagor o guardava sem piscar os olhos, esperando por sua investida.
- Vou matá-lo! - gritou Buzz, babando de raiva.
Atacou rapidamente, como um bólido, de supetão. Qualquer outro adversário teria sido pego. Mas Zagor foi mais rápido que ele. Colocou-se de lado apenas o suficiente para fazer passar a cabeça abaixada de Buzz, dando-lhe na nuca uma pancada com os punhos juntos. A tentativa do bounty killer cessou nesse instante. Buzz caiu ao solo com um gemido sufocado. O cartaz voou pelo saloon novamente.
- Por todos os bigodes de minha família! - exclamou o mexicano. Você o deixou aleijado pelo resto da vida!
- Tranqüilo, Chico! Tipos como ele têm a cabeça dura! - sorriu Zagor. Realmente, Buzz movia-se, tentando reerguer-se. As pessoas do saloon começaram a fazer uma roda em volta dos dois. Quando o killer engatinhou, Zagor o pegou pela gola e o suspendeu. Fez com que o killer apoiasse os pés no chão. Buzz, após certa hesitação, encontrou um mínimo de equilíbrio. Só nesse momento Zagor o largou. Tremeu, mas não caiu.
- Você consegue andar sozinho ou devo pô-lo para fora? - perguntou Zagor.
A resposta de Buzz foi mais uma tentativa de atingir Zagor com um soco.
Zagor esquivou-se e retribuiu com juros. Buzz voou para trás, por pelo menos três metros. Terminou junto a dois espectadores, que caíram junto com ele. Ouviu-se um rumor de gritos de espanto e de exclamações de surpresa.
- Entendi... - disse Zagor caminhando em direção a Buzz, que estava enrolado no chão com os dois infelizes - devo eu colocá-lo para fora.
O Espírito com a Machadinha levantou de novo Buzz pela nuca. Colocou no bolso dele o cartaz de recompensa que estava caído no chão e arrastou o bounty killer até à saída, como se fosse um saco de imundície, fazendo-o esfregar-se pela terra. Depois o arrastou também pelas costas e colocou-o para fora. Buzz abriu a porta com a cara, ao voar. Os poucos transeuntes que passavam pela rua principal de Jericó, quase totalmente escura, viram-no cair na estrada como um saco de sujeira. Buzz rolou na poeira e ficou parado.
No saloon, Zagor limpou as mãos e dirigiu-se ao balcão. Os presentes abriam-lhe caminho, admirados. Apoiou os dedos no balcão e falou com Seth Kolbe.
- Havia uma cerveja, na minha mesa... e eu ainda queria bebê-la.
Kolbe serviu-lhe uma jarra.
- Eis uma outra... oferecimento da casa.
Wes Groove estava sentado na sombra, no ângulo mais escondido do saloon. Foi o único a não levantar-se enquanto Zagor batia em Buzz. Ele tinha também uma cerveja na mesa. Bebeu o último gole justamente quando Zagor erguia a jarra que Kolbe havia acabado de encher. Ficou em pé, procurando algo nos bolsos. Deixou um dólar na mesa. Colocou o chapéu negro na cabeça. Estava totalmente vestido com roupa preta e se não fosse pelo aspecto físico pareceria um coveiro. Os coveiros vestem-se de negro, mas costumam ser magros, tradicionalmente. Groove, ao contrário, era alto e corpulento. Um armário ambulante, uma pessoa feia com a barba negra. Saiu do saloon. Viu Buzz gemer esfacelado no chão. Observou-o com desprezo.
- Não me faça esperar muito - sibilou.
Depois se afastou, desaparecendo engolido pelas trevas.
Buzz nem o viu. Nem mesmo o sentiu. Quando reabriu os olhos, Groove tinha acabado de ir embora. Buzz saiu engatinhando. Recordava vagamente como ele tinha ficado desse jeito. Foi aquele Zagor. Ele pagaria... mas amanhã. Agora estava muito atordoado para vingar-se. Correria o risco de apanhar de novo e Buzz não amava correr riscos inúteis. Por ora era melhor bater em retirada, pegar seu cavalo, dormir em um descanso na colina e acordar no dia seguinte com a mente mais lúcida. Ele não dormia nunca em albergue, quando caçava. Preferia escolher um lugar escondido fora da cidade, por maior prudência. Postou-se e conseguiu assim permanecer. Olhou em volta procurando a direção correta. Não era fácil, nas suas condições. Pensou um pouco, de modo titubeante. Depois, decidiu-se. Andou para a direita. Percorreu uma dezena de metros. Voltou-se, observou o outro lado da estrada e convenceu-se de que tudo estava bem. Percorreu outros vinte metros e encontrou o estábulo onde tinha deixado seu cavalo.
Dez minutos depois saía a galope do local. O ar fresco ajudou-o a readquirir, lentamente, a lucidez. Buzz vangloriava-se de ter olhos de gato, que vêem no escuro, e cria ter recuperado quase totalmente suas faculdades. Era verdade. Realmente, viu de modo perfeito na escuridão um homem que impedia sua passagem, ao longo da pista. Parecia um armário ambulante, um monstro da barba negra. Diminuiu a cavalgada, tirou as rédeas.
O barbudo estava a cavalo, esperava por ele. Ignorá-lo seria impossível. Buzz o observou com seus olhos de lince. Reconheceu-o. Ele estava no saloon, um pouco antes.
- Quem é você? - perguntou.
Groove esperou que Buzz parasse a três metros dele, depois respondeu.
- Sou Groove. Wes Groove. Você nunca ouviu falar desse nome?
- Nunca. Deveria? - Respondeu Buzz.
- É costume os colegas se reconhecerem.
- Você também é bounty killer?
- Também. - Disse Groove.
- Está perseguindo Percival March? - Perguntou Buzz.
- Sim, estou na pista dele.
- Então você está convencido de que aquele bastardo deve passar por Jericó?
- Passará por Jericó - anuiu Groove. - Só que eu cheguei a Jericó antes de você. Eu já estava ali, quando você entrou no saloon. Buzz sorriu.
- Você errou de disputa, amigo. - Disse Buzz - Neste jogo pagam o prêmio somente ao primeiro que traz a carcaça do procurado; quem chega primeiro ao saloon não ganha nada.
Groove sorriu.
- Não. Não me enganei de disputa. O certo é que não tenho nenhuma intenção de disputar com você. Escute, Groove, se aquilo que quer propor-me é a união de nossas forças, saiba que não pretendo dividir a recompensa. O valor já é muito pouco.
- Eu sei que é pouco - explicou Groove - realmente eu quero dobrá-la. Buzz arregalou os olhos com a surpresa. Arregalou-os três vezes, abrindo-os sempre mais, sempre mais incrédulo. A primeira vez, procurando entender o que o barbudo estava dizendo. A segunda, para se perguntar por que seu cavalo relinchou apavorado. A terceira, para perceber que houve um disparo e que o cavalo relinchou por causa disso. Quando entendeu que Groove retirara a pistola e disparara em sua direção (assim, abruptamente, sem bater os olhos), seus olhos já estavam abertos ao máximo e não conseguiu escancará-los ainda mais. Além do mais, não teria tempo para fazer isso. Percebeu que tinha um buraco na testa do qual saía sangue quente e aquele foi seu último pensamento.
Groove teve o tempo de recolocar a pistola fumegante no coldre, antes de Buzz cair da sela. Nem o observou, enquanto caía: estava com os olhos abaixados e só ergueu a cabeça depois de ter sentido o tombo do corpo do rival, que caía por terra, e de ter ouvido o cavalo fugir a galope. Viu Buzz estendido com um orifício na testa. O sangue que jorrava do crânio formava uma mistura com a poeira da pista.
Groove desceu do cavalo, aproximou-se do cadáver de Buzz e abaixou-se para procurar algo em seus bolsos, dos quais retirou o aviso de recompensa com a face estampada de March e o colocou em sua camisa. Depois voltou ao seu cavalo e soltou da sela um chapéu enlameado. Jogou-o na terra, próximo ao morto. Olhou satisfeito o chapéu e o cadáver. Sim, funcionaria, pensou. O seu era um bom plano. Saiu a cavalo. Devia fazer uma visita a uma pessoa. Afastou-se cuidando bem de deixar rastros visíveis e desapareceu na noite.
Depois foi a vez de a noite desaparecer ao raiar do dia. O sol apenas raiado deitou seu raios frescos à caça das sombras escondidas entre as casas. Não havia ainda varrido tudo, quando Zagor e seu amigo Chico começaram a descer a escada da estalagem. Chico bocejava com os olhos fechados, sem tapar a boca com a mão, porque acreditava que não poderia suportar, naquele momento, o esforço necessário para levantar um braço. Zagor, ao contrário, notou prontamente o homem sentado de costas, em uma mesa da sala inferior.
- Bom-dia, pessoal! - disse o homem. Chico parou de bocejar e arregalou os olhos.
- Bom-dia, Reilly - respondeu Zagor, esboçando um sorriso.
O homem sentado de costas virou-se. Uma estrela de lata cintilou em seu peito, iluminada por um raio de luz que entrava pela janela à procura de sombras. Samuel. Samuel Reilly, xerife de Jericó há muito tempo, era um amigo.
- Diabos! Você me reconheceu pelos chifres? - perguntou Reilly.
- Pela voz! Poderia ser um barítono, se se decidisse a abandonar a estrela e dedicar-se ao canto!
- Soube apenas essa noite que você estava na cidade e me disseram que partiria esta manhã. Por isso, levantei-me rápido para saudá-lo.
- E para oferecer um rico café da manhã! - sorriu Chico, esperançoso e com os olhos alegres. - Certo! - anuiu Reilly - é pra já!
Zagor sentou-se em uma cadeira.
- Pensei que você iria me prender por eu ter maltratado Buzz Dutch. - disse, sentando-se ao lado do xerife.
- Maltratar?! Segundo o que me contaram, você o pôs na rua mais morto do que vivo! - bravejou Reilly.
- Você pediu também fritadas e xarope? - perguntou Chico, enquanto punha o guardanapo em volta do pescoço, após ter sentado no lado oposto da mesa, de frente para Reilly. Reilly respondeu-lhe.
- Quatro porções, considerando que você come por dois.
- Contaram-lhe também que foi ele a começar - continuou Zagor.
- Certo! Do contrário, eu o prenderia realmente.
- Buzz procurava um certo Percival March. Sabe alguma coisa dele?
- Eu recebi também o cartaz. Li o mandado de prisão e francamente não me pareceu um grande matador. É apenas o vendedor de um empório de Chicago, que em um certo momento pegou sua família e fugiu com o dinheiro do caixa.
- A família?
- Sim. Mulher e dois filhos pequenos. Deve ter pensado em empregar o dinheiro ao longo da fronteira, talvez em um rancho, ou um sítio, ou um negócio.
- Eu excluiria o negócio - riu Chico - aposto que não confia nos vendedores! He, he, he!
Sempre rindo, Chico começou a esticar o pescoço para ver se a comida já vinha. Da cozinha vinha um bom cheiro, mas nem sombra de um garçom.
- Buzz parecia convencido que Percival passaria por aqui - disse Zagor - e os bounty killers costumam ser bem informados.
- Que pena que você esteja apenas de passagem. Do contrário, poderia ajudar-me a procurá-lo.
Chico alegrou-se. O garçom estava chegando com uma bandeja cheia. Ovos, manteiga, geléia, pão, café, fritadas e xarope.
- Eu teria feito, mas apenas para impedir que fosse Buzz a encontrá-lo primeiramente, - disse Zagor - mas, como você já disse, estou de passagem. Estão esperando-me no vilarejo dos Oneida daqui a dois dias. Você deve-se virar sozinho!
O garçom colocou a bandeja na mesa e começou a distribuir os pratos. Chico esfregou as mãos, satisfeito.
- Isso sim é uma refeição! - comentou. Estendeu a mão em direção à primeira fritada, quando um grito fez todos se voltarem.
- Xerife! - Um homem entrou correndo, ofegante. Era Ebenezer Fitzgeraldson, tinha um sítio a alguns quilômetros da cidade e, sempre naquela hora, todas as manhãs, trazia a Jericó o leite recolhido.
- Diabos! Que coisa aconteceu, Ebe? - perguntou Reilly levantando-se.
Chico olhou para Fitzgeraldson e concluiu que deveria dizer adeus para a comida.
- Mataram alguém na estrada. Eu o vi caído na terra!
- Quem - sibilou Reilly.
Fim da 1a parte.
Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima, com a colaboração eventual de Umberto Sorgentone, organizador da Mostra de Atri.
1. O caçador de recompensas.
O bounty killer entrou no saloon empurrando as portinholas com as mãos. Ficou por alguns minutos na soleira, segurando as portas entre os dedos, pelo tempo exato para observar o interior e as pessoas presentes, da esquerda para a direita. O local não era muito grande, nem estava tão cheio. Havia pessoas nas mesas, jogando cartas, dados, bebendo e comendo. Outros estavam em pé, junto ao balcão ou em volta das mesas, observando o jogo. Uma mulher sofrida e do sorriso pálido limpava o local, com uma bandeja cheia de copos vazios que eram levados para lavar. O homem deu os primeiros passos no interior, deixando a porta oscilar atrás de si. Caminhou, por entre a densa fumaça até o balcão. Todos ficaram observando-o. Não porque fosse um rosto novo: não, em Jericó, cidade às margens da via mais importante da região, os estrangeiros não eram raros. Só que se via longe que aquele tipo não era nenhum pastor. A camisa vermelha, se o vermelho era realmente a cor que havia por baixo daquele pano sujo, era atravessada por duas cartucheiras que se cruzavam à altura do peito, e o cinturão servia para manter penduradas as duas pistolas. O homem não portava o chapéu, ou se pensaria que teria uma pistola sob ele. Apoiou os cotovelos no balcão, vagarosamente, colocando sobre ele um meio quilo de poeira.
Seth Kolbe, o barman, olhava para ele preocupado.
- Uísque ou cerveja? - perguntou-lhe.
- O que fizer menos nojo - respondeu o caçador de recompensas.
Kolbe pegou o uísque, que fazia nojo igualmente como a cerveja, mas custava mais. Enquanto o barman enchia o copo, o bounty killer procurou algo no bolso da camisa, fazendo tintinar as cartucheiras. Todos continuaram a observá-lo.
- Você já viu alguma vez este rosto? - perguntou, abrindo um cartaz de recompensa amassado. Antes de ver quem era, o barman percebeu o valor. Quinhentos dólares.
- Não - respondeu - Quem é ?
- Percival March. Um ladrão. Deu um golpe em Chicago e fugiu na direção da fronteira em busca de sorte.
- Se procura por ela em Jericó, errou de caminho.
- Ele a busca em outro lugar, mas passará por aqui.
O caçador de recompensas levantou o copo, olhando-o intensamente. A seguir, bebeu tudo de um gole só, colocando-o vazio no balcão. Limpou a boca com a mão direita, pôs meio dólar no balcão, sem perguntar quanto era, nem esperar mais nada.
Apanhou o aviso de recompensa. Ficou a observar de novo o local. Encostou-se a uma mesa, em que quatro homens jogavam pôquer. Estavam todos com as cartas na mão e os cigarros pendiam da boca. Observaram-no. O bounty killer examinou um a um, confrontando os quatro rostos com o retrato no cartaz.
O caçador prendeu, entre as mãos, o queixo de um caubói do rancho Duplo Zero que estava apoiado em uma coluna. Balançou sua cabeça para a direita e a esquerda. - Não lhe diz nada? - perguntou agitando o retrato.
- N-não... realmente! - balbuciou o caubói.
À mesa vizinha havia dois homens comendo. Um mexicano pequeno e gordo com a gravata enlaçada, preocupado em comer uma coxa de peru, e um homem de quase dois metros que vestia uma estranha roupa índia e limpava seu prato com um pedaço de pão. O mexicano não podia ser o seu homem. O outro não tinha barbas, ao contrário de March. Mas as barbas vão e vêm. Fisicamente era semelhante e podia ser ele mesmo. O caçador aproximou-se do homem, olhou-o e já ia pondo a mão em seu queixo, para fazê-lo levantar mais a cabeça.
O homem o surpreendeu. Com um movimento rapidíssimo, segurou seu pulso com a mão direita. Apertou-o. Fez o bounty killer abaixar-se. Bateu sua mão na mesa. A pancada fez tremer pratos e copos. O mexicano retirou da sua frente a coxa de peru, notando pela primeira vez o killer.
O homem com as cartucheiras cruzadas arregalou os olhos. O outro homem continuava prendendo seu pulso na mesa.
- Procure um outro osso para roer, Buzz! - sibilou.
O caçador deixou escapar uma exclamação de surpresa.
- Você... me conhece?
O homem olhou-o fixamente nos olhos.
- Você é Herod Dutch, de Columbus, caçador de recompensas, mas o chamam Buzz, porque fica em volta das caças com a insistência de um lobo que quer comer a ovelha. Já que aqueles que fazem seu trabalho me dão enjôo, saia daqui e vá procurar Percival March em outro lugar!
Buzz escutou-o. Não conseguiu falar mais do que uma interjeição e uma pergunta:
- Sangue de Judas! Quem é você?
O homem largou o pulso e ficou em pé.
- Deram-me o nome de Zagor.
Zagor era mais alto que Buzz por pelo menos dez centímetros. Buzz deu um passo para trás. No saloon, levantou-se um sonoro murmúrio.
- Zagor! - exclamou Buzz. Já ouvira falar desse Golias. Um amigo dos índios. Um inimigo de muita gente. Um ex-inimigo de muitas ex-pessoas que agora jaziam no cemitério. - É a abreviatura de Za-gor-te-nay. Na língua algonquina significa “Espírito com a Machadinha”. Não sei sua opinião, mas para mim é melhor do que Buzz.
Só nesse momento o bounty killer notou a insólita machadinha de pedra que pendia na cintura de seu interlocutor.
O mexicano suspirou. Não havia ainda terminado de devorar sua comida e temia deixá-la pela metade. Sabia como terminavam as coisas, em noventa por cento das vezes. Buzz superou a surpresa e sentiu voltar a raiva.
- Tanto desprezo pelo meu trabalho e você também caça os futuros enforcados! - Eu não o faço por dinheiro, preocupo-me que tenham realmente cometido aquilo pelo qual o procuram. Se possível, escuto suas razões, tento prendê-los vivos e não os machuco quando não podem defender-se. Não os golpeio pelas costas e sobretudo não tenho gosto por isso - vociferou Zagor quase sem tomar fôlego. -Exatamente o oposto do que você costuma fazer, Buzz. Por mais pesada que seja a consciência de sua presas, a sua não fica para trás!
Buzz torceu o nariz e inflou o peito.
- Diabos! Você não tem nada para tratar com seus fedorentos amigos índios!? Você pode tratá-los assim, mas não a mim!
De repente, diante de todos, Buzz levou sua mão à pistola da direita. Talvez quisesse dispará-la ou apenas usá-la para fazer abaixar a crista de seu adversário, pouco importa.
Conseguiu segurá-la e extraí-la do coldre, mas não chegou a apontá-la. Zagor bloqueou seu braço um pouco acima do cotovelo e com força o fez voar alguns metros. Buzz perdeu a pistola um instante antes de espatifar-se em uma mesa e cair por terra entre os ases embaralhados, a toalha melada, os pratos quebrados, o resto do peru.
O mexicano conseguiu desviar-se justamente no momento certo.
- Caramba y carambita! - exclamou.
O cartaz de recompensa voava ainda no ar. Caiu na barriga de Buzz. Os clientes sentados às mesas levantaram-se e saíram do local. O negócio não havia ainda terminado. O bounty killer movia-se. Estava carregando suas pernas como uma mola, para pular com a cabeça abaixada. Zagor o guardava sem piscar os olhos, esperando por sua investida.
- Vou matá-lo! - gritou Buzz, babando de raiva.
Atacou rapidamente, como um bólido, de supetão. Qualquer outro adversário teria sido pego. Mas Zagor foi mais rápido que ele. Colocou-se de lado apenas o suficiente para fazer passar a cabeça abaixada de Buzz, dando-lhe na nuca uma pancada com os punhos juntos. A tentativa do bounty killer cessou nesse instante. Buzz caiu ao solo com um gemido sufocado. O cartaz voou pelo saloon novamente.
- Por todos os bigodes de minha família! - exclamou o mexicano. Você o deixou aleijado pelo resto da vida!
- Tranqüilo, Chico! Tipos como ele têm a cabeça dura! - sorriu Zagor. Realmente, Buzz movia-se, tentando reerguer-se. As pessoas do saloon começaram a fazer uma roda em volta dos dois. Quando o killer engatinhou, Zagor o pegou pela gola e o suspendeu. Fez com que o killer apoiasse os pés no chão. Buzz, após certa hesitação, encontrou um mínimo de equilíbrio. Só nesse momento Zagor o largou. Tremeu, mas não caiu.
- Você consegue andar sozinho ou devo pô-lo para fora? - perguntou Zagor.
A resposta de Buzz foi mais uma tentativa de atingir Zagor com um soco.
Zagor esquivou-se e retribuiu com juros. Buzz voou para trás, por pelo menos três metros. Terminou junto a dois espectadores, que caíram junto com ele. Ouviu-se um rumor de gritos de espanto e de exclamações de surpresa.
- Entendi... - disse Zagor caminhando em direção a Buzz, que estava enrolado no chão com os dois infelizes - devo eu colocá-lo para fora.
O Espírito com a Machadinha levantou de novo Buzz pela nuca. Colocou no bolso dele o cartaz de recompensa que estava caído no chão e arrastou o bounty killer até à saída, como se fosse um saco de imundície, fazendo-o esfregar-se pela terra. Depois o arrastou também pelas costas e colocou-o para fora. Buzz abriu a porta com a cara, ao voar. Os poucos transeuntes que passavam pela rua principal de Jericó, quase totalmente escura, viram-no cair na estrada como um saco de sujeira. Buzz rolou na poeira e ficou parado.
No saloon, Zagor limpou as mãos e dirigiu-se ao balcão. Os presentes abriam-lhe caminho, admirados. Apoiou os dedos no balcão e falou com Seth Kolbe.
- Havia uma cerveja, na minha mesa... e eu ainda queria bebê-la.
Kolbe serviu-lhe uma jarra.
- Eis uma outra... oferecimento da casa.
Wes Groove estava sentado na sombra, no ângulo mais escondido do saloon. Foi o único a não levantar-se enquanto Zagor batia em Buzz. Ele tinha também uma cerveja na mesa. Bebeu o último gole justamente quando Zagor erguia a jarra que Kolbe havia acabado de encher. Ficou em pé, procurando algo nos bolsos. Deixou um dólar na mesa. Colocou o chapéu negro na cabeça. Estava totalmente vestido com roupa preta e se não fosse pelo aspecto físico pareceria um coveiro. Os coveiros vestem-se de negro, mas costumam ser magros, tradicionalmente. Groove, ao contrário, era alto e corpulento. Um armário ambulante, uma pessoa feia com a barba negra. Saiu do saloon. Viu Buzz gemer esfacelado no chão. Observou-o com desprezo.
- Não me faça esperar muito - sibilou.
Depois se afastou, desaparecendo engolido pelas trevas.
Buzz nem o viu. Nem mesmo o sentiu. Quando reabriu os olhos, Groove tinha acabado de ir embora. Buzz saiu engatinhando. Recordava vagamente como ele tinha ficado desse jeito. Foi aquele Zagor. Ele pagaria... mas amanhã. Agora estava muito atordoado para vingar-se. Correria o risco de apanhar de novo e Buzz não amava correr riscos inúteis. Por ora era melhor bater em retirada, pegar seu cavalo, dormir em um descanso na colina e acordar no dia seguinte com a mente mais lúcida. Ele não dormia nunca em albergue, quando caçava. Preferia escolher um lugar escondido fora da cidade, por maior prudência. Postou-se e conseguiu assim permanecer. Olhou em volta procurando a direção correta. Não era fácil, nas suas condições. Pensou um pouco, de modo titubeante. Depois, decidiu-se. Andou para a direita. Percorreu uma dezena de metros. Voltou-se, observou o outro lado da estrada e convenceu-se de que tudo estava bem. Percorreu outros vinte metros e encontrou o estábulo onde tinha deixado seu cavalo.
Dez minutos depois saía a galope do local. O ar fresco ajudou-o a readquirir, lentamente, a lucidez. Buzz vangloriava-se de ter olhos de gato, que vêem no escuro, e cria ter recuperado quase totalmente suas faculdades. Era verdade. Realmente, viu de modo perfeito na escuridão um homem que impedia sua passagem, ao longo da pista. Parecia um armário ambulante, um monstro da barba negra. Diminuiu a cavalgada, tirou as rédeas.
O barbudo estava a cavalo, esperava por ele. Ignorá-lo seria impossível. Buzz o observou com seus olhos de lince. Reconheceu-o. Ele estava no saloon, um pouco antes.
- Quem é você? - perguntou.
Groove esperou que Buzz parasse a três metros dele, depois respondeu.
- Sou Groove. Wes Groove. Você nunca ouviu falar desse nome?
- Nunca. Deveria? - Respondeu Buzz.
- É costume os colegas se reconhecerem.
- Você também é bounty killer?
- Também. - Disse Groove.
- Está perseguindo Percival March? - Perguntou Buzz.
- Sim, estou na pista dele.
- Então você está convencido de que aquele bastardo deve passar por Jericó?
- Passará por Jericó - anuiu Groove. - Só que eu cheguei a Jericó antes de você. Eu já estava ali, quando você entrou no saloon. Buzz sorriu.
- Você errou de disputa, amigo. - Disse Buzz - Neste jogo pagam o prêmio somente ao primeiro que traz a carcaça do procurado; quem chega primeiro ao saloon não ganha nada.
Groove sorriu.
- Não. Não me enganei de disputa. O certo é que não tenho nenhuma intenção de disputar com você. Escute, Groove, se aquilo que quer propor-me é a união de nossas forças, saiba que não pretendo dividir a recompensa. O valor já é muito pouco.
- Eu sei que é pouco - explicou Groove - realmente eu quero dobrá-la. Buzz arregalou os olhos com a surpresa. Arregalou-os três vezes, abrindo-os sempre mais, sempre mais incrédulo. A primeira vez, procurando entender o que o barbudo estava dizendo. A segunda, para se perguntar por que seu cavalo relinchou apavorado. A terceira, para perceber que houve um disparo e que o cavalo relinchou por causa disso. Quando entendeu que Groove retirara a pistola e disparara em sua direção (assim, abruptamente, sem bater os olhos), seus olhos já estavam abertos ao máximo e não conseguiu escancará-los ainda mais. Além do mais, não teria tempo para fazer isso. Percebeu que tinha um buraco na testa do qual saía sangue quente e aquele foi seu último pensamento.
Groove teve o tempo de recolocar a pistola fumegante no coldre, antes de Buzz cair da sela. Nem o observou, enquanto caía: estava com os olhos abaixados e só ergueu a cabeça depois de ter sentido o tombo do corpo do rival, que caía por terra, e de ter ouvido o cavalo fugir a galope. Viu Buzz estendido com um orifício na testa. O sangue que jorrava do crânio formava uma mistura com a poeira da pista.
Groove desceu do cavalo, aproximou-se do cadáver de Buzz e abaixou-se para procurar algo em seus bolsos, dos quais retirou o aviso de recompensa com a face estampada de March e o colocou em sua camisa. Depois voltou ao seu cavalo e soltou da sela um chapéu enlameado. Jogou-o na terra, próximo ao morto. Olhou satisfeito o chapéu e o cadáver. Sim, funcionaria, pensou. O seu era um bom plano. Saiu a cavalo. Devia fazer uma visita a uma pessoa. Afastou-se cuidando bem de deixar rastros visíveis e desapareceu na noite.
Depois foi a vez de a noite desaparecer ao raiar do dia. O sol apenas raiado deitou seu raios frescos à caça das sombras escondidas entre as casas. Não havia ainda varrido tudo, quando Zagor e seu amigo Chico começaram a descer a escada da estalagem. Chico bocejava com os olhos fechados, sem tapar a boca com a mão, porque acreditava que não poderia suportar, naquele momento, o esforço necessário para levantar um braço. Zagor, ao contrário, notou prontamente o homem sentado de costas, em uma mesa da sala inferior.
- Bom-dia, pessoal! - disse o homem. Chico parou de bocejar e arregalou os olhos.
- Bom-dia, Reilly - respondeu Zagor, esboçando um sorriso.
O homem sentado de costas virou-se. Uma estrela de lata cintilou em seu peito, iluminada por um raio de luz que entrava pela janela à procura de sombras. Samuel. Samuel Reilly, xerife de Jericó há muito tempo, era um amigo.
- Diabos! Você me reconheceu pelos chifres? - perguntou Reilly.
- Pela voz! Poderia ser um barítono, se se decidisse a abandonar a estrela e dedicar-se ao canto!
- Soube apenas essa noite que você estava na cidade e me disseram que partiria esta manhã. Por isso, levantei-me rápido para saudá-lo.
- E para oferecer um rico café da manhã! - sorriu Chico, esperançoso e com os olhos alegres. - Certo! - anuiu Reilly - é pra já!
Zagor sentou-se em uma cadeira.
- Pensei que você iria me prender por eu ter maltratado Buzz Dutch. - disse, sentando-se ao lado do xerife.
- Maltratar?! Segundo o que me contaram, você o pôs na rua mais morto do que vivo! - bravejou Reilly.
- Você pediu também fritadas e xarope? - perguntou Chico, enquanto punha o guardanapo em volta do pescoço, após ter sentado no lado oposto da mesa, de frente para Reilly. Reilly respondeu-lhe.
- Quatro porções, considerando que você come por dois.
- Contaram-lhe também que foi ele a começar - continuou Zagor.
- Certo! Do contrário, eu o prenderia realmente.
- Buzz procurava um certo Percival March. Sabe alguma coisa dele?
- Eu recebi também o cartaz. Li o mandado de prisão e francamente não me pareceu um grande matador. É apenas o vendedor de um empório de Chicago, que em um certo momento pegou sua família e fugiu com o dinheiro do caixa.
- A família?
- Sim. Mulher e dois filhos pequenos. Deve ter pensado em empregar o dinheiro ao longo da fronteira, talvez em um rancho, ou um sítio, ou um negócio.
- Eu excluiria o negócio - riu Chico - aposto que não confia nos vendedores! He, he, he!
Sempre rindo, Chico começou a esticar o pescoço para ver se a comida já vinha. Da cozinha vinha um bom cheiro, mas nem sombra de um garçom.
- Buzz parecia convencido que Percival passaria por aqui - disse Zagor - e os bounty killers costumam ser bem informados.
- Que pena que você esteja apenas de passagem. Do contrário, poderia ajudar-me a procurá-lo.
Chico alegrou-se. O garçom estava chegando com uma bandeja cheia. Ovos, manteiga, geléia, pão, café, fritadas e xarope.
- Eu teria feito, mas apenas para impedir que fosse Buzz a encontrá-lo primeiramente, - disse Zagor - mas, como você já disse, estou de passagem. Estão esperando-me no vilarejo dos Oneida daqui a dois dias. Você deve-se virar sozinho!
O garçom colocou a bandeja na mesa e começou a distribuir os pratos. Chico esfregou as mãos, satisfeito.
- Isso sim é uma refeição! - comentou. Estendeu a mão em direção à primeira fritada, quando um grito fez todos se voltarem.
- Xerife! - Um homem entrou correndo, ofegante. Era Ebenezer Fitzgeraldson, tinha um sítio a alguns quilômetros da cidade e, sempre naquela hora, todas as manhãs, trazia a Jericó o leite recolhido.
- Diabos! Que coisa aconteceu, Ebe? - perguntou Reilly levantando-se.
Chico olhou para Fitzgeraldson e concluiu que deveria dizer adeus para a comida.
- Mataram alguém na estrada. Eu o vi caído na terra!
- Quem - sibilou Reilly.
Fim da 1a parte.
Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima, com a colaboração eventual de Umberto Sorgentone, organizador da Mostra de Atri.
2 comentários:
Muito interessante o conto, e realmente muito bem escrito. Aguardo a próxima parte. A propósito, serão quantas?
São 5 partes, Amigo Yudae.
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