Franco Donatelli, sem dúvida um dos mais populares “traços” do staff zagoriano, nasce em Alexandria em 13 de março de 1925, mas apenas dois anos depois se transfere com a família para Milão, onde viveria por toda a vida.
Desde menino, demonstra uma precoce verve para o desenho e, graças a uma série de felizes coincidências (um companheiro seu de escola [Luciano Bertasi] era o tio de Sergio Bonelli), entra em contato, muito jovem, com a Editora Audace e já em 1940, com textos de Gianluigi Bonelli, realiza os desenhos de alguns episódios de “Furio Almirante”. Certo, naqueles anos, também por causa da guerra, desenhar quadrinhos era ainda um trabalho artesanal, uma experiência cheia de incógnitas, que não garantia um salário seguro.
Mesmo sem abandonar a sua paixão, Donatelli aceita por um breve período trabalhar em um banco, colabora com um estúdio publicitário, freqüenta a academia de Brera. Em 1946, desenha as histórias de “Mistero”, escritas por Leonello Martini para a Editora Ponzoni, assinando com o seu primeiro pseudônimo: Frank Well. Entre os tantos esporádicos empenhos realizados nesse período, ilustra alguns “Albi dell`Intrepido” para a Universo, “Mandrake” para a Nerbini, “Amok” para a Casarotti e alguns westerns para as Edições Alpe.
Em 1948, o seu caminho profissional volta a cruzar-se com o da família Bonelli: seu novo banco de provas é “A Patrulha dos Sem Medo - La Pattuglia dei Senza Paura”, uma série de suspense escrita por Bonelli pai e Franco Baglioni, em que dois policiais americanos se envolvem em uma luta sem tréguas com a marginalidade, em uma metrópole dura e desapiedada. No mesmo ano, desenha alguns episódios de “Sitting Bull” para a Della Casa.
Em seguida, faz capas e ilustrações para os “Albi Salgari” e para muitos livros juvenis editados pela Mursia, Cappelli, Sonzogno e Rizzoli e colabora com o mercado francês (ilustrações em meia tinta para “Paris Jour”) e inglês (contos de guerra em quadrinhos).
Nos anos sessenta, passa a ser um dos desenhistas estáveis de “Zagor”, uma insólita figura justiceira dos bosques, criado por seu velho amigo Sergio Bonelli, com o pseudônimo de Guido Nolitta.
Página da história O Arqueiro Vermelho, Zagor Record 18
Dotado de uma marca essencial e altamente comunicativo, Donatelli contribuiu para tornar críveis os personagens mais diversos: do western “Pecos Bill”, editado pela Sepim, para a qual realiza mais de três mil quadros, ao curioso super-herói made in italy “Radar”, um jovem que se desloca à velocidade da luz, pode assumir a aparência de pessoas e animais e é dotado - daí seu nome - de incríveis capacidades telepáticas que lhe permitem “sentir” qualquer um que invoque seu nome.
No mesmo período, trabalha para a Editora Corno, realizando as capas para “Gordon” e “Máscara Negra”. Para a Mondadori, desenha um episódio de “Batman”, publicado em “Nembo Kid”.
Vista a sintonia que o prende, nos anos setenta, Sergio Bonelli pede a Donatelli para dar um rosto ao seu novo herói, Mister No, com uma história que, embora tenha sido realizada antes, será publicada no segundo número da série.
Mas no coração de Donatelli havia também uma notável veia de pintor: basta pensar nas centenas de capas, assinadas Frank Donat, que ilustrou entre 1963 e 1975 para a coleção bonelliana de “O Pequeno Ranger”. Naquelas têmperas[1], feitas sobre uma mistura de cores mórbidas e quentes, o jovem herói de Andrea Lavezzolo adquiria um fascínio e uma densidade dramática inesquecíveis.
Donatelli não dava pretensiosas soluções gráficas, não carregava seus quadros com particularidades inúteis, não previstas pelo escritor: sabia apontar diretamente para o coração da Aventura, sem distrair a atenção dos leitores.
Textos traduzidos e adaptados por José Ricardo do Socorro Lima da revista Zagor 417 (Vendetta Vudu), de janeiro de 1996, e do livro “Zagor”, da Editora Glamour, de novembro de 1992, pág. 102/103.
[1] Segundo o Dicionário Aurélio, pintura a têmpera é a que se faz com pigmentos dissolvidos num adstringente, como cola ou clara de ovo, o que facilita a adesão da matéria pictórica ao suporte. Também pode significar o mural ou o quadro em que se emprega essa técnica.
Um comentário:
Existe algum site ou pesquisa que informe quais edições de Zagor foram desenhadas por Donatelli?
Postar um comentário