Caros amigos,
Noutro dia, eu fui ao escritório do nosso diretor de arte Michele Pepe (quem lhes fala não é Sergio Bonelli, mas, excepcionalmente, Mauro Boselli, editor desta coleção). Queria pedir-lhe uma sugestão para a capa do número de Zagor de novembro. Mas, aqui na Bonelli, temos sempre mais trabalho que tempo. Michele me sorriu, indicando os quadros a corrigir e revisar que entulhavam a sua mesa.
Claudio Nizzi e Mauro Boselli
Eu bati a mão em suas costas: “Você tem razão, Pepito. Não há pressa!”. “Nós vemos isso na segunda”, me disse ele. Hoje, enquanto escrevo estas linhas, é segunda-feira, sete de julho de 1997. Michele Pepe morreu ontem, dormindo. Não entrei em seu escritório hoje de manhã. Não quero entrar lá mais. Michele Pepe era o nosso diretor de arte. Era ele quem coloria as capas de Zagor e de grande parte de nossas revistas; ele quem desenhava os vivazes títulos do justiceiro de Darkwood. A capa que vocês verão em novembro (“Kraken”), deveremos pensar nela sozinhos, eu e Ferri. Ser-me-á difícil, porque queria tanto ter pedido aquele conselho a Michele, esta manhã, e creio que a capa não será bela como aquela que teríamos imaginado, junto com ele.
Moreno Burattini, ao centro, e Michele Pepe, à direita
Michele Pepe desenhava há pouco tempo Mister No, mas há mais de dez anos era um zagoriano, um desenhista do Espírito da Machadinha entre os mais amados pelos nossos leitores. Ele deixou guardada uma história completa[1] (outro arrependimento: faltam algumas tiras de conexão que eu não havia ainda lhe dado para desenhar, mas, sabe-se, havia ainda tempo...), e em um momento ou outro essa história será publicada. Será um outro modo para recordá-lo e nesta página antecipo a vocês uma bela cena.
Michele Pepe era uma bravíssimo colega, um ponto de referência para mim e para os outros autores da série. Ele via os defeitos dos quadros muito melhor do que eu e sem ele terei muito, muito mais trabalho. Mas, sobretudo, Michele Pepe era um amigo. Hoje, para não sentir muito o vazio que deixou, escreverei a mais algumas páginas de Zagor. Talvez, com a cumplicidade de um outro desenhista amigo, colocarei sua imagem em uma história, em algum mundo feliz dos quadrinhos que eram uma parte importante de sua vida[2]. Assim, por um pouco de tempo, fingirei não sentir a sua falta. Mas a verdade verdadeira é que Michele Pepe já faz falta a todos nós e continuará a fazer muita falta. Dito isso, caros zagorianos, perdoem-me a comoção.
De aventuras, batalhas e viagens mirabolantes voltaremos a falar no mês que vem.
Desta vez podíamos apenas mandar uma saudação ao nosso amigo. Hasta siempre, Michele!
Mauro Boselli
Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima da revista Zagor Gigante 385 (L`Eredità Fitzmayer), seção Postaaa!, pág. 4.
[1]Essa história foi publicada nos números 415 (Fuga per la libertà) e 416 (Catene). No Brasil: Zagor 39 e 40/Mythos.
[2] Boselli inseriu o rosto de Michele Pepe na história “O Príncipe dos Duendes”, publicada no Zagor Special 11, em abril de 1999. No Brasil: Zagor Especial 3/Mythos.
Imagens gentilmente cedidas pelo site Darkwood On-Line
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