Caros amigos,
Salto os cumprimentos e passo imediatamente a uma carta muito interessante escrita por Franco Merisi, de Caserta:
“Caro Bonelli, li com entusiasmo os primeiros números da tão esperada reedição de Zagor e quero primeiramente dar os cumprimentos a você (aliás Nolitta), a Ferri e a toda a redação. Mas eu tenho uma dúvida, uma curiosidade e uma pergunta, como diz o subtítulo da sua bela rubrica: como já a partir do número 2, no início de alguns episódios está escrito “textos e desenhos de G. Ferri”? Trata-se de um erro (coisa em que não creio, porque a publicação é extremamente cuidada) ou na verdade você, já depois do número 1, cansou-se de escrever os textos e abdicou dessa função?
Talvez... mas a dúvida é acrescida do fato de que em muitíssimas passagens desses mesmos episódios reconheci o inconfundível “estilo Nolitta”...”
Bem, eu esperava realmente que uma carta do gênero chegasse, para que pudesse explicar, depois de tanto tempo, que coisa ocorreu de fato.
Caro Franco, em primeiro lugar, agradeço-lhe pelos elogios que faz e o cumprimento pelos seus conhecimentos de “zagorólogo”. Depois disso, começo dizendo que eu não estava “cansado” (tão rápido teria sido um pouco absurdo). Não, há uma razão muito forte para aquilo que aconteceu, uma razão de caráter “histórico-empresarial”. Dada a estrutura artesanal da Editora, eu devia fazer de tudo um pouco e naquele período, recordo, muitos problemas contingenciais faziam com que eu fosse mais “administrador” que escritor. Ou seja, abandonei (temporariamente) Zagor para dedicar-me a contas, faturas, contratos e outras coisas particularmente entediantes. Para Zagor, infelizmente, eu podia dedicar apenas os restos do meu tempo e os usava para estudar com Ferri um esboço de história. Ele depois ia para casa (em Recco, perto de Gênova, a uma distância que piorava a situação) e fazia tudo, texto e desenhos. Para Ferri, um trabalho danado. E me parece justo, hoje, homenageá-lo, publicando aqui embaixo seu auto-retrato (as rugas que hoje ele tem a mais são devidas também pelo cansaço de então). De qualquer forma, no fim dessa insólita “colaboração”, eu intervinha para retocar os diálogos, principalmente para dar homogeneidade à “linguagem zagoriana”. Eis explicadas a dúvida, a curiosidade e a pergunta de Franco e todas as perplexidades de tantos outros que me escreveram, também a propósito da maior dose de humorismo dos números 2 a 6: entre outras coisas, na época, o humorismo era uma exigência do “mercado” (ou seja, do público, ou seja, de vocês) e nós não poderíamos não colocá-lo nas histórias.
Mais tarde, sempre para opor-se àquele período de “crise”, eu me socorri do amor paterno, pedindo a Giovanni Luigi Bonelli, embora empenhadíssimo com Tex, que escrevesse algumas histórias do meu personagem (vocês as lerão a partir do número 6). Com o passar do tempo, entretanto, o amor por Zagor triunfou sobre as contas. No número 10 da série, voltou o “staff” original (“Nolitta”-Ferri) e desde então, por muitos anos, não mais houve “traições” da minha parte.
Tanto para dar uma idéia do empenho que Zagor significou para mim, direi que das 27.860 páginas que desenhei (até agora) na minha vida, 16.210 pertencem ao Espírito da Machadinha.
Um grande abraço a Franco e a todos e nos vemos no próximo mês.
Sergio Bonelli
Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima da revista Tutto Zagor 4, de setembro de 1986.
Salto os cumprimentos e passo imediatamente a uma carta muito interessante escrita por Franco Merisi, de Caserta:
“Caro Bonelli, li com entusiasmo os primeiros números da tão esperada reedição de Zagor e quero primeiramente dar os cumprimentos a você (aliás Nolitta), a Ferri e a toda a redação. Mas eu tenho uma dúvida, uma curiosidade e uma pergunta, como diz o subtítulo da sua bela rubrica: como já a partir do número 2, no início de alguns episódios está escrito “textos e desenhos de G. Ferri”? Trata-se de um erro (coisa em que não creio, porque a publicação é extremamente cuidada) ou na verdade você, já depois do número 1, cansou-se de escrever os textos e abdicou dessa função?
Talvez... mas a dúvida é acrescida do fato de que em muitíssimas passagens desses mesmos episódios reconheci o inconfundível “estilo Nolitta”...”
Bem, eu esperava realmente que uma carta do gênero chegasse, para que pudesse explicar, depois de tanto tempo, que coisa ocorreu de fato.
Caro Franco, em primeiro lugar, agradeço-lhe pelos elogios que faz e o cumprimento pelos seus conhecimentos de “zagorólogo”. Depois disso, começo dizendo que eu não estava “cansado” (tão rápido teria sido um pouco absurdo). Não, há uma razão muito forte para aquilo que aconteceu, uma razão de caráter “histórico-empresarial”. Dada a estrutura artesanal da Editora, eu devia fazer de tudo um pouco e naquele período, recordo, muitos problemas contingenciais faziam com que eu fosse mais “administrador” que escritor. Ou seja, abandonei (temporariamente) Zagor para dedicar-me a contas, faturas, contratos e outras coisas particularmente entediantes. Para Zagor, infelizmente, eu podia dedicar apenas os restos do meu tempo e os usava para estudar com Ferri um esboço de história. Ele depois ia para casa (em Recco, perto de Gênova, a uma distância que piorava a situação) e fazia tudo, texto e desenhos. Para Ferri, um trabalho danado. E me parece justo, hoje, homenageá-lo, publicando aqui embaixo seu auto-retrato (as rugas que hoje ele tem a mais são devidas também pelo cansaço de então). De qualquer forma, no fim dessa insólita “colaboração”, eu intervinha para retocar os diálogos, principalmente para dar homogeneidade à “linguagem zagoriana”. Eis explicadas a dúvida, a curiosidade e a pergunta de Franco e todas as perplexidades de tantos outros que me escreveram, também a propósito da maior dose de humorismo dos números 2 a 6: entre outras coisas, na época, o humorismo era uma exigência do “mercado” (ou seja, do público, ou seja, de vocês) e nós não poderíamos não colocá-lo nas histórias.
Mais tarde, sempre para opor-se àquele período de “crise”, eu me socorri do amor paterno, pedindo a Giovanni Luigi Bonelli, embora empenhadíssimo com Tex, que escrevesse algumas histórias do meu personagem (vocês as lerão a partir do número 6). Com o passar do tempo, entretanto, o amor por Zagor triunfou sobre as contas. No número 10 da série, voltou o “staff” original (“Nolitta”-Ferri) e desde então, por muitos anos, não mais houve “traições” da minha parte.
Tanto para dar uma idéia do empenho que Zagor significou para mim, direi que das 27.860 páginas que desenhei (até agora) na minha vida, 16.210 pertencem ao Espírito da Machadinha.
Um grande abraço a Franco e a todos e nos vemos no próximo mês.
Sergio Bonelli
Texto traduzido por José Ricardo do Socorro Lima da revista Tutto Zagor 4, de setembro de 1986.
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