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A capa do romance original italiano. |
Historicamente menosprezada pela "alta cultura", a
aventura é
uma palavra cara aos zagorianos há muitas décadas: pois se em Zagor não
há um gênero específico, quando falamos de "aventura" podemos de alguma
maneira englobar todas as tramas envolvendo horror, fantasia,
explorações, faroeste e o que mais aparecer. O almanaque anual de Zagor
na Itália é, justamente, chamado de Almanaque da Aventura. Portanto, o
Espírito da Machadinha sempre esteve nesse meio, desde o princípio.
Se no cinema e nos quadrinhos a aventura encontra — hoje — algum respaldo crítico, com Flash Gordon, Fantasma,
O tesouro de Sierra Madre e vários outros exemplos, na literatura ela continua sendo extremamente subestimada. E é nesse sentido que o romance
Os muros de Jericho,
escrito pelo incansável batalhador de Darkwood Moreno Burattini,
representa um notável esforço para ignorar todo o preconceito que o
drama aventuroso suscita e com isso dar uma contribuição de
enobrecimento a essa espécie narrativa.
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A capa da edição brasileira do romance, da Mythos. Desenho de Ferri. |
Os muros de Jericho é, então, um romance de
aventura, e nunca se envergonha dessa condição. Rápido e de leitura
simples e prazerosa, o livro relaciona-se muito fraternalmente com a
tradição de obras como as de Jack London e Stevenson, com uma estrutura
apresentando elementos de força tais como uma figura masculina de grande
poder físico (Zagor, evidentemente), um mistério a resolver, injustiças
a corrigir e, claro, um tempo minúsculo para resolver o clímax.
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Primeira página do livro, assinada por mim e pelo autor Burattini. |
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É uma história simples, seguindo a linha dos romances
pulp
de poucas páginas e muita movimentação. Capítulos curtos, com ganchos
de suspense, fôlego suspenso entre a ação desenfreada. Burattini
desenvolve a
lenda de Za-gor-te-nay, com certa mitologia
envolvendo o herói (muito se fala e se conhece dele, previamente), e
depois faz valer a confrontação com a realidade: sim, Zagor era tudo o
que se falava dele, e muito mais! O Senhor de Darkwood não desanima, não
se cansa, tem uma vitalidade e senso de justiça apuradíssimos e
infalíveis. Burattini faz como se o registrasse com uma câmera, cada
linha do romance sendo um segundo fotografado de uma grande jornada de
perigos. O romance de Zagor é quase um filme, o movimento transparecendo
a cada virada de página. Isso corrobora ainda mais o espírito de
dime novel,
os livrinhos "descartáveis" que substituíam de maneira escondida a
emoção do cinema para jovens leitores a quem a tela grande não
alcançava. Lendo esses breves relatos, o leitor vira espectador de uma
fita emocionante e com isso torna-se um pouco um personagem da história,
estando lado a lado com o herói da vez, torcendo pela sua vitória e
quase que correndo os mesmos riscos que ele.
Os muros de Jericho
possui várias ilustrações, cada uma feita por um artista diferente.
Isso serve para mostrar o que eu disse acima: é a lenda de Zagor se
desenvolvendo, adquirindo matizes diversas — cada pessoa o vê/descreve
de uma maneira diferente! Foi um belo toque a engrandecer bastante um já
grande "pequeno" livro, que presta um devido tributo a décadas de
representações do Espírito da Machadinha por incontáveis desenhistas:
por mais diferentes que pareçam entre si, todos são apenas um, e é esse
Zagor aventuroso e aventureiro, mito e amigo, herói e irmão, que Moreno
Burattini descreve tão habilmente nesse extraordinário e surpreendente
romance.
[A razão para eu não adentrar a trama mais a
fundo é que não cabe a mim revelar seus detalhes, pois as surpresas são
muitas e é preciso que o leitor (zagoriano ou não) detenha-se por
algumas horas nessa inédita experiência literária zagoriana.]